domingo, 6 de dezembro de 2009

Dubliner - the Hard side



As conversas em Dublin, começam sempre e invariavelmente sobre "o tempo".
Na semana passada, falava com um taxista que me confessava ser altamente deprimente passar um ano inteiro na Irlanda e que por isso conhecia irlandeses capazes de dar um milhão de euros por um terreno na Quinta do Lago ou outro tanto por uma Villa no sul de Espanha.
Esta semana, conheci uma italiana no Tesco, que vive em Dublin há nove anos, casada com um irlandês, que me dizia que à medida que o tempo passa, torna-se cada vez mais dificil suportar viver aqui pelo que estavam a considerar mudarem-se para Milão.
Há quase dois anos que aqui cheguei e tenho de admitir que o primeiro ano foi bem mais fácil de passar que o segundo, apesar das minhas viagens mensais e vitais a Lisboa.
O tempo é de facto insuportável. Se no verão, chove quase todos os dias, no Inverno está tanto frio que as pessoas quase não saem de casa.
Esta Ilha tem quase sempre um manto espesso de nuvens cinzentas por cima das nossas cabeças.
Não imagino o que seja nascer e viver a vida toda numa ilha no norte do atlântico onde chove todos os dias.
Mas as pessoas tornam-se a face visivel do desequilibrio.
Acordam, raramente tomam banho - o cheiro nauseabundo no autocarro pela manhã e os cabelos por pentear são prova disso - comem ovos mexidos com presunto e feijão antes de sair de casa, vão para o trabalho, almoçam uma sandes fria ou asas de frango acompanhadas de água com gelo ou cerveja, saem às cinco, enfiam-se num bar até às 20:00h, bebem mais cerveja, fumam ao frio, vão para casa, não jantam ou comem qualquer coisa frita com muito chilli, bem picante, são fanáticos por futebol, veêm um canal exclusivamente de venda de casas e terrenos em terras mediterrânicas e imagino que se deitem embriagados mas a sonhar com raios de sol.
Os mais jovens vestem-se das cores mais berrantes e fluorescentes, os adultos vestem-se invariavelmente de preto, elas carregam camadas sobrepostas de maquilhagem, usam pestanas e unhas postiças, compram desmedidamente qualquer coisa que os distraia por mais inutil que seja, a preços absurdos.
As pré-adolescentes enrolam pela cintura as saias axadrezadas do uniforme dos colégios e sobem-nas até ao limite do umbigo.
8000 desaparecidos por ano, 700 suicidios por ano, Dublin é a cidade da Europa com maior numero de assassinatos com armas de fogo, 25% dos homens são vitimas de violência doméstica e o aeroporto tem um movimento de 24 milhões/ano para uma população de 6 milhões de habitantes.
Felizmente e por enquanto, há os outros como eu - os Espanhois, Italianos, Franceses, Brasileiros, Chineses, Indianos, Nigerianos - que pelo menos damos côr a esta cidade, nas nossas roupas, com o nosso tom mais ou menos bronzeado, com os nossos sorrisos sóbrios e com calor no olhar.
Sim, o olhar! Talvez seja isso que mais me incomoda, o olhar azul, frio e distante desta gente do Norte.
Não lhes sinto a alma ou talvez prefira nem vê-la.
Estou em contagem decrescente! Tenho um ano (no máximo) para aproveitar o que esta Ilha tem de melhor e para continuar a resistir ao seu clima pesado sem me deixar ir abaixo.
É estranho mas sei que um dia vou sentir saudades.

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