Sorte a minha..."fiz bem" em ter nascido na A#$%%&, em 1970
A minha aldeia é Lisboa.
Os meus primeiros anos em paredes meias com o palácio, na educação leal de irmãs salesianas e outros tantos com a honra e liberdade de ser escoteira
Aprendi cedo que não existe melhor sitío para dormir que dentro de uma tenda debaixo de uma árvore - a fazer nós de marinheiro, ler sinais de pista, cantar à volta de uma fogueira e fazer uma boa acção por dia
Esfolei os joelhos a correr e a andar de bicicleta na minha Travessa
Aventurei-me pelos cantos de Lisboa e aprendi o nome de cada rua, com os olhos abertos de quem descobre tudo pela primeira vez
Com as aulas de piano no Restelo descobri a musica antiga e sonhei...
Mais tarde, a loucura da adolescência em plenos anos 80, com as matinés no Crazy Nights e no Loucuras, a dançar um slow a meio da tarde
E os rapazes da minha rua...
E os pactos de sangue de amizade eterna entre 4 amigas
Ao som de Smiths, Bauhaus, Jesus & Mary Chain ou All About Eve e Phil Collins
Das primeiras saídas à noite para o Coconuts e apanhar o primeiro comboio do dia
As noites longas no Seagull e Sociedade Anónima
Das aventuras naífs no Bairro Alto no Frágil e Ocarina ao cheiro de um fado
Os namoricos de praia
As tardes no Dafundo, as madrugadas nos Bolos Quentes de Santos, o conforto de uma caldo verde e um pão com chouriço antes de dormir
Os gritos pelo Freitas na Alameda
Os concertos na Torre de Belém, Aquaparque e Alvalade
As promessas do primeiro amor num banco de Belém, em cada jardim de Lisboa, de mãos dadas pelas Serras a subir ao cimo de todos os castelos
Aquelas noites motards na Mexicana, Vela Latina, da Santomar, do Abel, do jardim Conde Valbom
Os passeios de mota ao domingo pelo Cabo da Roca, Sintra, Ericeira e Arrábida
Almoços no Algarve, pela recta de Palmela a 270 Km/h com o vento a bater na cara e a sentir a vida por um fio
O maior desgosto de amor - que durou vinte anos mas que me devolveu a fé em Deus
As minhas fugas para a serra encantada do monte da lua pelas 9:00h da manhã na tentativa de aliviar a dor e perder o mêdo do futuro
Mais noites do Alcântara Mar, Adlib, Sub-Solo, Vicío, Plateau, Kremlin, Clube T, Jonhy guitar e Kapital
Novas paixões nas praias da Adrága e Baleal
O privilégio de ter casado ao crepúsculo do dia, numa capela quinhentista
Os passeios de lancha por Vilamoura
O cansaço definitivo das festas frívolas e da noite social e barulhenta
O indescritivel prazer em ouvir Canto Gregoriano na Sé ou um recital de Harpa na Sala do Trono
Os aromas da Golegã
A decisão amarga de viver numa cidade de mentes pequenas
A paixão pela Galiza e a descoberta de Santiago onde me sinto mais próxima do Divino
A vida nesta Ilha Celta, cor de esmeralda, onde em cada muro de musgo sobressai uma flor azul
Nesta cidade Georgiana que me trouxe de volta os encantos e me leva a insistir na importância da doçura e da ternura
E a certeza de que mesmo que viva em dez cantos diferentes do mundo, a minha aldeia será sempre Lisboa
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