sábado, 31 de outubro de 2009

Mediocritate


“Ceux de qui la conduite offre le plus à rire
Sont toujours sur autrui les premiers à medire”.
Moliére


“Muitos nascem: poucos vivem.
Os homens sem personalidade são inumeráveis e vegetam, moldados pelo meio, como cera fundida no cadinho social.
Pela sua moralidade de catecismo e a sua inteligência quadriculada, constrangem-se a uma perpétua disciplina do pensamento e da conduta.
O homem medíocre é uma sombra projectada pela sociedade; é por essência, imitador e está perfeitamente adaptado para viver em rebanho, reflectindo rotinas, preconceitos e dogmatismos reconhecidamente úteis para a domesticidade."
Os homens medíocres, afirma Ingenieros:
“São rotineiros, honestos, mansos; pensam com a cabeça dos outros, codividem a hipocrisia moral alheia, e ajustam o seu carácter às domesticidades convencionais.
Estão fora da sua órbita o engenho, a virtude e a dignidade, privilégio dos carácteres excelentes; sofrem, por isso desdenham-nos.
São cegos para as auroras; ignoram a quimera do artista, o sonho do sábio e a paixão do apóstolo.
Condenados a vegetar, não suspeitam que existe o infinito, para além dos seus horizontes.
O horror do desconhecido ata-os a mil preconceitos tornando-os medrosos e indecisos; nada aguilhoa a sua curiosidade; carecem de iniciativa e olham sempre para o passado, como se tivessem olhos na nuca.
São incapazes de virtude; ou não a concebem ou lhes exige demasiado esforço.
Não vibram com tensões mais altas de energia; são frios, embora ignorem a seriedade; apáticos, sempre acomodativos e desequilibrados.
Não sabem estremecer num calafrio, sob uma carícia terna, nem desencadear de indignação perante uma ofensa.
Não vivem a sua vida para si mesmos, senão para o fantasma que projectam na opinião dos seus semelhantes.
Trocam a sua honra por uma prebenda e fecham a sua dignidade à chave para evitar o perigo; renunciaram a viver em vez de gritar a verdade em face do erro de muitos.
Quando se arrebanham, são perigosos. A força do número supre a debilidade individual.
São prosáicos.
Não têm ânsias de perfeição: a ausência de ideias impede-os de pôr nos seus actos, o grão de sal que profetiza a vida.
Vivem uma vida que não é viver.
Crescem e morrem como plantas; não necessitam ser curiosos, nem observadores.
São prudentes, por definição, de uma prudência desanimadora.
Desprovidos de asas e de penacho, os carácteres medíocres são incapazes de voar até um píncaro ou de lutar contra um rebanho.
A sua vida é uma perpétua cumplicidade à vida alheia.
São refractários e hostis a todo o gesto digno.
Vivem dos outros e para os outros: Carecem de luz, de arrojo, de fogo, de emoção.
Tudo neles é emprestado.
O maldizente, covarde entre todos os envenenadores, está certo de sua impunidade: por isso, é desprezível.
Não afirma: insinua.
Mente com espontaneidade, como respira.
Sabe seleccionar o que vai convergir com a detracção.
Sem covardia, não há maldizência.
Aquele que pode gritar, face a face, uma injúria, aquele que denuncia em voz, aquele que aceita os riscos dos seus dizeres não é maldizente.
A ironía é a perfeição do engenho, uma convergência de intenção e sorriso, aguda na oportunidade, justa na medida.
É-lhe mais fácil ridicularizar uma acção sublime.
O Homem Medíocre José Ingenieros

"Os estúpidos merecem um bilhete de identidade próprio, porque são eles que sustentam a estupidez colectiva"
O Zahir

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