domingo, 17 de maio de 2009

A Coragem

A palavra coragem é muito interessante.
Ela vem da raiz latina cor, que significa "coração".
Portanto, ser corajoso significa viver com o coração.
E os fracos, somente os fracos, vivem com a cabeça; receosos, eles criam em torno deles uma segurança baseada na lógica.
Com medo, fecham todas as janelas e portas – com teologia, conceitos, palavras, teorias – e do lado de dentro dessas portas e janelas, eles escondem-se.

O caminho do coração é o caminho da coragem.
É viver na insegurança, é viver no amor e confiar, é enfrentar o desconhecido.
É deixar o passado para trás e deixar o futuro ser.
Coragem é seguir trilhas perigosas.
A vida é perigosa.
E só os covardes podem evitar o perigo – mas aí já estão mortos.
A pessoa que está viva, realmente viva, enfrentará sempre o desconhecido.
O perigo está presente mas assumirá o risco.
O coração está sempre pronto para enfrentar riscos; o coração é um jogador.
A cabeça é um homem de negócios. Ela sempre calcula – ela é astuta.
O coração nunca calcula nada.

“A semente não pode saber o que lhe vai acontecer, a semente jamais conheceu a flor.
E a semente não pode nem mesmo acreditar que traga em si a potencialidade para transformar-se numa bela flor.
Longa é a jornada.
E será sempre mais seguro não entrar nela, porque o percurso é desconhecido, e nada é garantido... mil e uma são as incertezas da jornada, muitos são os imprevistos - e a semente sente-se em segurança, escondida no interior de um caroço resistente.
Ainda assim ela arrisca, esforça-se; desfaz-se da carapaça dura que é a sua segurança, e começa a mover-se.
A luta começa no mesmo momento: a batalha com o solo, com as pedras, com a rocha.
A semente era muito resistente, mas a plantinha será muito delicada e os perigos serão muitos.

Não havia perigo para a semente, a semente poderia ter sobrevivido por milénios mas para a plantinha os perigos são muitos.
O brotinho lança-se, porém, ao desconhecido, em direção ao sol, em direção à fonte de luz, sem saber para onde, sem saber por quê.
Enorme é a cruz a ser carregada, mas a semente está tomada por um sonho e segue em frente.


Semelhante é o caminho do homem.
É árduo. Muita coragem será necessária”.

Esta descrição da carta faz-me reflectir sobre todos os momentos em que precisamos de ser como a semente: aceitar o campo em que caímos e, mesmo dentro de uma casca rija, acreditar nos nossos sonhos e romper esta casca, olhando em volta, intuindo onde estamos e para onde vamos.
Se o ambiente for inóspito, temos que, pacientemente, esperar pela chuva e pelo sol que vêm fortalecer o nosso crescimento.
Temos que encontrar uma brecha entre as pedras e os espinhos para serpentear nosso caule e abrir nossa copa e nossas flores debaixo do vasto céu azul que nos espera.

“Quando nos defrontamos com uma situação muito difícil, há sempre uma escolha: podemos ficar cheios de ressentimentos e tentar encontrar alguém ou alguma coisa em que pôr a culpa pelas nossas dificuldades, ou podemos enfrentar o desafio e crescer.

A flor nos mostra o caminho, à medida que a sua paixão pela vida a conduz para fora da escuridão, para o mundo da luz.
Não faz nenhum sentido em lutar contra os desafios da vida, ou tentar evitá-los ou negá-los. Eles estão aí, e se a semente deve transformar-se em flor, precisamos de passar por eles.

Seja corajoso o bastante para transformar-se na flor que você foi feito para ser”.

sábado, 2 de maio de 2009

A Inocencia


O velho homem irradia no mundo uma satisfação de criança.

Há uma atmosfera de graça à sua volta, indicando que ele está bem consigo mesmo, e com o que a vida lhe proporcionou.

Parece que ele está conversando alegremente com o louva-a-Deus no seu dedo, como se os dois fossem os maiores amigos.

As flores cor de rosa que cascateiam em torno dele representam um tempo de deixar acontecer, de relaxamento, de doçura.

Elas são uma resposta à sua presença, um reflexo da sua própria natureza.

A inocência que advém de uma profunda experiência de vida é semelhante à de uma criança, sem ser infantil.

A inocência das crianças é bela, mas ignorante.

Ela será substituída por desconfiança e dúvida à medida que a criança for crescendo e aprendendo que o mundo pode ser um lugar perigoso e ameaçador.

A inocência, porém, de uma vida plenamente vivida tem um quê de sabedoria e da aceitação da vida em eterna mudança.