
Ela vem da raiz latina cor, que significa "coração".
Portanto, ser corajoso significa viver com o coração.
E os fracos, somente os fracos, vivem com a cabeça; receosos, eles criam em torno deles uma segurança baseada na lógica.
Com medo, fecham todas as janelas e portas – com teologia, conceitos, palavras, teorias – e do lado de dentro dessas portas e janelas, eles escondem-se.
O caminho do coração é o caminho da coragem.
É viver na insegurança, é viver no amor e confiar, é enfrentar o desconhecido.
É deixar o passado para trás e deixar o futuro ser.
Coragem é seguir trilhas perigosas.
A vida é perigosa.
E só os covardes podem evitar o perigo – mas aí já estão mortos.
A pessoa que está viva, realmente viva, enfrentará sempre o desconhecido.
O perigo está presente mas assumirá o risco.
O coração está sempre pronto para enfrentar riscos; o coração é um jogador.
A cabeça é um homem de negócios. Ela sempre calcula – ela é astuta.
O coração nunca calcula nada.
“A semente não pode saber o que lhe vai acontecer, a semente jamais conheceu a flor.
E a semente não pode nem mesmo acreditar que traga em si a potencialidade para transformar-se numa bela flor.
Longa é a jornada.
E será sempre mais seguro não entrar nela, porque o percurso é desconhecido, e nada é garantido... mil e uma são as incertezas da jornada, muitos são os imprevistos - e a semente sente-se em segurança, escondida no interior de um caroço resistente.
Ainda assim ela arrisca, esforça-se; desfaz-se da carapaça dura que é a sua segurança, e começa a mover-se.
A luta começa no mesmo momento: a batalha com o solo, com as pedras, com a rocha.
A semente era muito resistente, mas a plantinha será muito delicada e os perigos serão muitos.
Não havia perigo para a semente, a semente poderia ter sobrevivido por milénios mas para a plantinha os perigos são muitos.
O brotinho lança-se, porém, ao desconhecido, em direção ao sol, em direção à fonte de luz, sem saber para onde, sem saber por quê.
Enorme é a cruz a ser carregada, mas a semente está tomada por um sonho e segue em frente.
Semelhante é o caminho do homem.
É árduo. Muita coragem será necessária”.
Esta descrição da carta faz-me reflectir sobre todos os momentos em que precisamos de ser como a semente: aceitar o campo em que caímos e, mesmo dentro de uma casca rija, acreditar nos nossos sonhos e romper esta casca, olhando em volta, intuindo onde estamos e para onde vamos.
Se o ambiente for inóspito, temos que, pacientemente, esperar pela chuva e pelo sol que vêm fortalecer o nosso crescimento.
Temos que encontrar uma brecha entre as pedras e os espinhos para serpentear nosso caule e abrir nossa copa e nossas flores debaixo do vasto céu azul que nos espera.
“Quando nos defrontamos com uma situação muito difícil, há sempre uma escolha: podemos ficar cheios de ressentimentos e tentar encontrar alguém ou alguma coisa em que pôr a culpa pelas nossas dificuldades, ou podemos enfrentar o desafio e crescer.
A flor nos mostra o caminho, à medida que a sua paixão pela vida a conduz para fora da escuridão, para o mundo da luz.
Não faz nenhum sentido em lutar contra os desafios da vida, ou tentar evitá-los ou negá-los. Eles estão aí, e se a semente deve transformar-se em flor, precisamos de passar por eles.
Seja corajoso o bastante para transformar-se na flor que você foi feito para ser”.